15.2.12

Ficção perde

Uma das mais importantes características necessárias para uma boa obra de ficção é a plausibilidade do enredo. Não tem ducha de água fria maior do que uma coincidência grande demais usada para resolver a história. Aquele momento em que você suspira e diz "Ah, não!". Dá sempre a impressão de que o autor ficou com preguiça de pensar numa solução mais engenhosa.

Mas a verdade é que a dita "vida real" sempre acaba superando as maiores implausibilidades e nos apresentando a coincidências simplesmente inacreditáveis. Por exemplo. Estou terminando de ler a biografia do Steve Jobs -- que por sinal é muito boa, até para quem, como eu, não se interessa especialmente pelo tópico tecnologia/apple/vale do silício. É uma ótima biografia, ponto. Mas como ia dizendo. Jobs era filho adotivo, e lá pelos 30 anos foi atrás dos pais biológicos. Achou a mãe e uma irmã, e através delas descobriu que o pai, um imigrante sírio, era dono de um restaurante. E se deu conta de que já tinha ido ao restaurante do pai, e inclusive o tinha cumprimentado no final. Sem saber de quem se tratava, é claro. E o pai, sem saber que era pai do Steve Jobs, chegou a comentar com a filha que o restaurante ia bem, obrigado, que era muito frequentado por esses novos empresários de tecnologia, e que "até o Steve Jobs" já tinha ido lá. Num romance, eu torceria o nariz.

E eis que na semana passada me chega uma correspondência para o endereço do trabalho. No meu nome, mas com um outro nome na frente. Por exemplo, se meu nome fosse Carmen Miranda, a correspondência estaria no nome de Luisa Carmen Miranda. Mas o endereço estava certo. Aí abri e vi que era um aviso do SPC, no nome da minha quase homônima, e com um CPF diferente, uma cobrança relacionada a uma compra feita em Porto Alegre. Como meu verdadeiro nome é muito incomum, achei logo que era um erro e estava prestes a jogar no lixo quando resolvi dar um google no nome. E aí descobri que a tal mulher com o nome quase igual ao meu de fato existe, e o pior: mora numa rua com o mesmo nome, no mesmo número, em Duque de Caxias, RJ! Ou seja: uma quase-homônima, num endereço homônimo! Como na internet tudo se acha, liguei para a moça -- super simpática, claro, como todas as pessoas que compartilham esse nome abençoado. Ela realmente existe, e também ficou impressionada com a coincidência. Mandei a correspondência para ela, mas estou até agora chocada com essa história.

2 comentários:

leila disse...

life has way more imagination than we do

Cláudio Luiz disse...

"Mas a verdade é que a dita "vida real" sempre acaba superando as maiores implausibilidades e nos apresentando a coincidências simplesmente inacreditáveis".
Poderia contar uma recente também inacreditável.