9.5.11

Saudade

Eu reclamo tanto que não tenho tempo para o blog, e hoje o tempo se fez, e estou há um tempão aqui tentando escrever um post, e não consigo.
Porque queria escrever sobre pessoas que eu conhecia e que morreram nessas últimas duas semanas, pessoas não tão próximas, mas próximas o suficiente para que eu fosse à missa de uma, ao velório do outro, etc. Não que eu fosse escrever exatamente a respeito dessas pessoas (foram 3), mas sobre a quantidade de sensações com que precisamos lidar quando nos vemos diante da morte dos outros, que é sempre um pouco a nossa morte também.
E sobre esses sentimentos de transitoriedade, de ciclo etc. Mas especialmente sobre a saudade. Porque as pessoas relacionam muito a morte a uma perda ("Sinto muito pela sua perda", etc.), mas esse nem é o sentimento que me fala mais alto. Muito mais é a saudade, a presença da ausência, o carrossel de recordações que gira na cabeça de quem fica, lembrando uma frase, um gesto, uma história engraçada, um trejeito, um tom de voz.
No fundo é uma saudade boa, um sentimento que sempre traz um sorriso aos lábios, sorriso misturado com lágrimas, lágrimas que levam ao abraço e a mais uma história compartilhada, "lembra daquela vez...". Tudo isso termina na incrível - e bota incrível nisso - capacidade que a gente tem de reviver com tanto detalhe um tempo que já passou, e não só re-viver como re-sentir, se transportar de verdade para outra dimensão, ao lado de alguém que não está mais.

4 comentários:

Ana Paula disse...

Bom, eu acho que vc conseguiu fazer um excelente post sobre o assunto. Muito delicado e muito sentido também. Evocou em mim exatamente as emoções que descreveu, pelo menos.
Beijos.

Marcus Pessoa disse...

Se eu precisasse definir a vida em apenas uma frase, diria que se trata de uma batalha sem tréguas entre o esquecimento e a memória.

Menina Eva disse...

Só comentei pra dizer que eu sinto o mesmo, e gostei tanto desse texto tão silencioso e cheio de quietude. Foi o que eu senti.

Liliane disse...

Estou num momento bem parecido com este que voce descreve e acho que a idéia de perda para mim é justo isso de saber que não há mais possibilidade de construir novas recordações com quem partiu... Perdemos a chance da convivencia que nos regalará depois com as recordações.. Adorei o que voce escreveu!
beijos