26.11.09

Sobre como o calor derrete os miolos da nação

O ar-condicionado do meu quarto quebrou bem no início dessa insana onda de calor, que dura já umas semanas. O aparelho já contava muitos e muitos verões, e resolvi comprar um novo. Como de praxe, fui olhar nas lojas online. Submarino, Americanas.com, PontoFrio. Dos modelos de 7,500 BTUs, só encontro a mesma mensagem: "Produto Esgotado no Momento". Junte-se ao fato que o buraco na minha parede é relativamente pequeno, não são todos os modelos de ar que cabem, só os menores.
Então hoje, quando fez um calor medonho, resolvi procurar nas lojas não-virtuais. Na hora do almoço. Não, não fui bater perna no Centro nem na Av Copacabana. Fui ao xópin Rio Sul. Chegando lá, fui cortando as possibilidades. Nas Casas Bahia, nada, nem um aparelho pra contar história. Na Casa & Video, duas unidades, apenas, de marcas obscuras. Nas Americanas, nada, só vendem pelo site. E a AmbientAir fechou, o que muito me entristeceu.
Nada feito. Resolvi então almoçar. Hora do almoço num xópin center como o Rio Sul é um pesadelo. Um pesadelo com muita gente. Não quis encarar a praça de alimentação, não estava a fim de comer o que quer que fosse em frente a um lugar chamado Giraffas, assim com 2 fs, e com 2 girafas amarelas me olhando. Então subi 2 lances, vi um Garcia & Rodrigues que eu não conhecia, e pensei, vou lá. Bem em frente, um quiosque de café do próprio G&R, chamado Figaro Café. Sentei, olhei o cardápio e pedi quiche de alho poró com salada verde. Quando chegou, veio o quiche mais triste que eu já vi, acompanhado de umas folhas de alface com um molho amarelo.
Dei uma triste beliscada no quiche, que estava péssimo, e pedi a conta. O garçom, solícito, perguntou se havia algum problema.
-- Sim, esse quiche totalmente desmilinguido, e o fato de que isso não é uma salada verde, é só alface.
-- Mas é que a salada é só acompanhamento, é isso mesmo.
Veio a moça que fazia as vezes de maître - exceto pelo fato de que vestia uma blusa de paetês, um short preto, uma meia-calça preta e um sapato preto de salto agulha 10 e plataforma à la globeleza. Eu repeti o que havia dito ao garçom, e disse que estava desapontada, que o prato não fazia jus à fama gastronômica do restaurante.
-- Mas a salada que acompanha o quiche é simples, é só isso mesmo -- ela repetiu.
-- Olha: não existe salada de um ingrediente só.
Fui embora com fome (não cobraram o prato), já atrasada, e com calor, mesmo dentro do ar-condicionado do shopping (provavelmente porque não consegui comprar o meu ar, e estou cada vez menos esperançosa). Parei no Viena, voltei algumas décadas no tempo e pedi um petisco clássico da minha infância: a coxa-creme. Alguém não conhece a coxa-creme do Viena? Não sei como explicar. É a coisa mais entupitiva que se pode imaginar. Exatamente o que eu precisava.
Depois da coxa-creme, parei no McDonald's e comprei uma casquinha. Paguei e fui andando, já para descer e ir embora, quando, ainda de casquinha na mão, reparei que minha bolsa estava aberta e minha carteira tinha sumido. Pânico, pânico. Voltei correndo para o McDonald's.
-- Acho que deixei minha carteira aqui.
-- Deixou sim, senhora, eu acabei de entregar ao gerente.
Procurei o gerente com os olhos, e outro atendente me apontou:
-- Ali no salão.
De fato, lá estava o gerente, com a minha carteira de motorista na mão, procurando, entre os clientes do salão, uma "Dona O-Nome-Do-Meu-Pai". Tipo, suponha que meu pai se chame Walter. Ele estava perguntando quem era a Dona Walter.
Cheguei esbaforida:
-- A carteira é minha.
Ele me olhou, minha habilitação na mão:
-- A senhora é a Dona Walter?
-- Hein?
-- Walter, é o nome que está escrito aqui.
-- Claro que não! Esse é o nome do meu pai! -- e arranquei o documento da mão dele, que ficou meio sem graça e me devolveu a carteira.
Peguei um táxi de volta pro trabalho, depois dessa triste jornada. Dos 4 elevadores, 3 quebrados. Acho que até os elevadores sucumbiram ao calor.
Quando saí para pegar Mathilde na creche, passei no Ponto Frio que fica na esquina da Nova Nelson Mandela e perguntei se tinha ar-condicionado. O vendedor respondeu com aquele ar de quem já respondeu a essa pergunta 150 vezes hoje:
-- Só de 220V. De 110V, só para entrega daqui a vinte dias.
-- Vinte dias? Até lá eu já morri de calor, moço!
-- Pois é, não tem em nenhuma loja. E a indústria não está dando conta de produzir.

Então é essa a situação. Aquece a economia, os ar-condicionados somem no verão (porque já começou o verão, vocês sabem), e nossa potência industrial tropical não consegue repor os estoques.
Só espero que meu ventilador de teto aguente firme.

6 comentários:

vera maria disse...

Isso é que é saga, ana, e nesse calor vc realmente está pagando seus pecados. Espero que vc encontre seu ar pq esse verão está mesmo um escândalo, insuportável, só quero estar dentro de qquer coisa fria o tempo todo.
um beijo,
clara

Monix disse...

Vai ficar mais caro e dar mais mais trabalho, mas compra o de 220 e faz a adaptação da rede elétrica. Minha mãe fez isso e disse que inclusive economiza energia! Bjs

Camilo disse...

Oi, Anna!
Que saga!!!
Vamos tentar comentar por partes:
a) Não conheço a coxa-creme do Viena.
b) Shopping nesta época do ano é fogo (com trocadilho). Praça de alimentação na hora do rango então...
c) Salada de alface é só alface? Hum... acho q alface com cebola pelo menos, né? Então, vc tem razão: "não existe salada de um ingrediente só".
d) Dona Walter foi fogo (again).
e) O Rio certamente é bem mais quente que SP. Então me parece que não há tanto problema com ar condicionado doméstico, apesar de estar bem quente por aqui ultimamente. Mas fique feliz por não ter que atravessar a cidade num busão lotado no fim do dia. Aff!

Beijo e boa sorte!

Jussara disse...

Oi, Anna,
Continuo lendo sempre o blog, apenas não tenho comentado. Olha, sobre calor eu entendo, moro numa cidade quente e abafada a maior parte do ano. Aqui praticamente não faz frio, então é verão o ano todo. Até acho graça dos jrnais e revistas qdo falam em "projeto verão". Bom, li vc falando do buraco do ar condicionado, mas por que vc não compra esses modelos split? Não precisa de buraco, é só fazer uns dois ou três furos e acho que os preços já deram uma caída; além de tudo são mais econômicos. E outra: não gosto da Ponto Frio, acho uma gelada (trocadilho infame!). Tudo bem que moro em outra cidade, mas já vi blogueira de responsa aí do Rio reclamando tb.
Sobre o Viena, fiquei conhecendo em setembro deste ano, quando estive em São Paulo. Essa coxa-creme que vc fala é a coxinha com catupiry? Minha amiga disse que é muito famosa, mas no dia em que resolvemos comer (a de frango) não tinha mais. Deve ser muito boa mesmo.
Desculpe o comentário enorme.

SB disse...

Anna,

Não conheço a coxa-creme, talvez não seja do meu tempo, digo, da minha infância . . . e pela sua descrição, prefiro não conhecer mesmo!
Calor no Rio de Janeiro é tudo que desejamos, é como o arroz está para o feijão, a caipirinha está para feijoada. Ou você se acostuma e pensa na praia a semana inteira até chagar o fim de semana ou muda pro Sul.
Faço votos que já tenha conseguido comprar seu ar condicionado, ou que, pelo menos, seu ventilador esteja resistindo.

anna v. disse...

Gente, boas notícias: chamamos um técnico que consertou o nosso ar! Não precisei comprar outro e estamos dormindo no geladinho. Vivavivaviva!