30.4.08

Três vivas para a internet

Porque, vocês sabem, criar filho é difícil. Mas mais difícil deve ter sido antes da internet e dos blogues.
Vejam ontem, por exemplo. Ontem foi um dia bem difícil, criançamente falando. E na verdade foi um dia difícil não muito distante de outros dias difíceis. Meaning: as coisas estão, aos poucos, ficando mais difíceis, como direi?, como um todo. Mas enfim, difícil dentro do esperado. Ainda não entendi por que as pessoas fazem um tamanho auê com os três primeiros meses do bebê. Como se ficasse mais fácil depois disso.
Bom, mas então. Ontem. Ontem eu estava bem triste. Quase semideprimida. Considerando seriamente ligar para o trabalho e pedir para sair, desistir de todos os projetos em que estou envolvida, admitir que viajei completamente quando pensei que seria possível trabalhar de casa, ainda que menos, e ser ao mesmo tempo uma mãe de corpo presente. Ontem eu estava vencida. Vencida e convencida de que estava criando uma monstrinha que só quer ficar no colo, que faz um escândalo desproporcional quando colocada para dormir no berço ou no carrinho -- quem não passou por isso não sabe da tenacidade de que um bebê é capaz. Ontem eu estava quase acreditando nas pessoas astrológicas que me falaram várias vezes "Ih, minha filha, capricórnio com ascendente em touro, é terra e terra, se prepara que vai ser muito teimosa e te dar muito trabalho". Ontem bateu aquela certeza de que estou fazendo tudo absolutamente errado. Estava desistindo. E sei que a perspectiva é de ficar galopantemente cada vez mais difícil. Tipo, imagina quando ela começar a andar. A correr. A falar o que quer!
Mas à noite por fim ela dormiu. E eu tive a boa idéia de não trabalhar e, em vez disse, ler os blogues de que gosto. Inclusive das companheiras blogueiras recém-mães. E aí vi que o bicho está pegando pra todo mundo, por todo lado. E isso me deu um conforto enorme. Porque afinal, se estou fazendo tudo errado, o tudo errado é o certo, porque está todo mundo errando junto.
Obrigada, hein, gentes.

24.4.08

Unhas feitas

Eu com a mistura "Rebu" + "La Boheme"

Certamente há de haver por aí estudos antropológicos sobre a obsessão da mulher brasileira pelas unhas feitas. Arrisco a dizer que transcende a barreira da classe social. Exceto pelas realmente miseráveis, e provavelmente pela mulher que trabalha no campo, por aqui todo mundo faz as unhas. Seja rica, milionária, remediada, pobre. Salão de beleza existe em qualquer canto, e dependendo dá pra achar promoções pé + mão por dérreau, por aí. E, claro, unha é fácil de fazer em casa: esmalte, pau de laranjeira, base, acetona, tudo custa barato. É só ter um mínimo de destreza (principalmente para fazer a mão direita, no caso das destras, e a esquerda para as canhotas) e pronto.

Ou seja, toda mulher faz as unhas com impressionante freqüência. É coisa de uma vez por semana no mínimo - passando disso, já começa a dar uma agonia na mulherada: rachou aqui, descascou aqui, quebrou um pedacinho etc. Toda mulher, exceto duas: minha mãe e, por conseqüência, eu.

Minha mãe tem um bom motivo: é violonista. Assim, tem que manter grandes as unhas da mão direita e bem curtas as da esquerda, cujos dedos ficam, idealmente, cheios de calos. Criança é bicho que imita, de modo que não incorporei a coisa das unhas pintadas. Pra completar, a vida toda estudei piano, o que demanda também unhas curtinhas para não fazer tlec tlec nas teclas.

Mas acima de tudo, é por um certo orgulho despeitado que mantenho distância das manicures. Explico: as mãos são a parte do meu corpo de que mais gosto. São bonitas mesmo. Meus dedos são finos e compridos, as unhas longas mesmo quando cortadas bem rente. Ou seja, tenho as unhas com as quais toda mulher sonha, sem fazer o menor esforço. Quando adolescente, cheguei a fazer uma sessão de fotos das mãos, e enviar para um agente especializado para, quem sabe, ganhar uma grana sendo "modelo de mão" e fazendo propaganda de anéis, esmaltes, relógios. (Tem um episódio ótimo de Seinfeld em que o George vira modelo de mão, alguém viu?) O cara elogiou muito minhas mãos, mas disse que eu não poderia nem sonhar em tomar sol, que eu deveria ir à praia de luvas até o cotovelo. Eu tinha 14, 15 anos, por aí, idade em que ia à praia um dia sim, o outro também, e é óbvio que a idéia de ir à praia fazendo o estilo nunca-houve-uma-mulher-como-Gilda fez-me rir, de modos que terminou aí mesmo a minha promissora carreira de modelo de mãos.

Enfim, não tenho o hábito de fazer as unhas. Não freqüento salão (só há pouco tempo aprendi que, quando se vai cortar o cabelo ou fazer seja lá o que for no salão, é de bom tom dar uma gorjeta para quem te atende). Meu único "momento da beleza" é a depilação, que não faço no salão, só faço nas redes especializadas que se propagam pela cidade com nomes trocadilhos (Pello Menos, Pelo Sim Pelo Não etc.).

Aí na semana passada recebemos visitas aqui em casa e combinei com M., que é manicure/pedicure autodidata, de fazer o meu pé. Mais do que esmalte, ela ia fazer uma boa esfoliação, e esse cuidado com os pés é uma coisa que todo mundo que dá duro merece de vez em quando. Aproveitando o embalo, ia pintar também, de cor clarinha, base e talz. Então resolvi radicalizar e pintar de vermelhão. E num arroubo, resolvi pintar também as unhas da mão.

(Vale abrir um parêntese para os nomes de cores de esmalte de unha. Deve ser uma profissão divertida, quase tanto quanto batizar operação da Polícia Federal. Tem a linha "Ópera" - M. Butterfly, La Boheme, Carmem - linha "Jorge Amado" - Tieta, Gabriela - série "Ritmos Brasileiros" - Samba, Frevo, Bossa Nova - série "Sugestivos" - Malícia, Sex Appeal, Meia de Seda, Minissaia, Desejo, De Repente, Deixa Beijar - e outros nomes simplesmente ótimos, como Berioska, Atlântida e Rebu.)

Por acaso, no dia seguinte ao das unhas feitas veio aqui em casa minha madrinha fotógrafa, fazer umas fotos da família - eu, marido, Mathilde - no estilo produzidas, com figurino, fundo, guarda-chuvas rebatedores de flash etc. Explico: ela está querendo entrar nesse ramo "fotos de bebês e grávidas", e nós somos os cobaias. As fotos ficaram super lindas, e as unhas vermelhas acabaram, por assim dizer, compondo o meu personagem.

A novidade causou furor. Quem viu as fotos logo quis saber: que unhas são essas?! Minha sogra comentou com a mulher de Cunhado nº 1 (como se diz isso? concunhada?), e esta não acreditou, acho que deveria ser ilusão de ótica. Marido vive me perguntando onde escondi a mulher com quem ele se casou, quem sou eu que ocupei esse corpo. Minha avó achou incrivelmente lindo. Minha mãe achou engraçado e super perua. Ninguém ficou indiferente. E eu, de repente, me sinto um pouco uma mulher como as outras.

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20.4.08

Receita infalível para conhecer mulheres

Tenho certeza de que, com tantos meses de posts sobre gravidez e filhos, o número de leitores homens deste blogue diminuiu consideravelmente.

Mas para os que ainda restam, se há solteiros entre eles, fica a dica: arranje um bebezinho bem pequeno, de preferência sobrinho, afilhado ou algo assim, e saia com ele para dar uma volta na rua, pendurado num "canguru", de modo que o bebê fique de frente para a rua, olhando o movimento. Pra começar, bebês adoram esses passeios, adoram ver rua. E além disso, eu garanto: 95% das mulheres de qualquer idade, cor, raça ou classe social que cruzarem o seu caminho vão, no mínimo, sorrir. 80% tecerão alguma espécie de comentário cuti-cuti. E, no barato, 50% pararão para falar com você.

Leve uns cartõezinhos com telefone no bolso do canguru.

Pê ésse sobre o emagrecimento

Agora estou com a impressão de que os tantos quilos a menos se devem à quantidade imensa de cabelo que está caindo da minha cabeça.
Não podia ser tão bom assim, né?
;-)

18.4.08

Zarabatana neles

Meu sonho de consumo é uma zarabatana e um estoque inifinito de flechas venenosas letais.

Para soprar no pescoço daqueles que, de madrugada, buzinam numa rua silenciosa como a minha - na verdade, para os que buzinam em geral, ainda mais de madrugada.

Para acabar com a raça dos transeuntes que eu nunca vi na vida e que, no meio da rua, querem pegar na minha filha bebê mínima vulnerável aos micróbios.

Para dizimar de vez os donos de cachorro que não catam a porra dos cocôs.

Para que ninguém nunca mais ouça falar da kombi que passa com auto-falante aos brados anunciando comprador de ferro velho - ar condicionado velho - geladeira velha - aquecedor velho etc. Idem para os donos de Brasílias decrépitas que vendem pão de leite, pão de cenoura, pão de sal, pão de milho, venha, senhora, para o seu lanche, madame, pão de leite etc. etc.

Para fingir que nunca existiram pessoas que param seus carros numa ruazinha qualquer, abrem a porta e colocam uma música em um volume ridículo.

A zarabatana é a arma ideal. A vítima está conversando, nem suspeita, e de repente, pff. Fecha o olho e fim.

Zarabatana neles, é meu lema.
.

15.4.08

Para a manutenção da sanidade do casal

Às vezes é absolutamente necessário que se peça um combinado japonês em casa e se derrube uma garrafa de vinho numa terça-feira chuvosa.
Simplesmente assim.
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A dieta do aleitamento materno

Vou escrever um livro sobre isso e ganhar um dinheirão.

Tá, tudo bem que para amamentar é condição sine qua non engravidar antes, engordar uma dúzia de quilos, e, importante, criar um filho depois.

Mas, tirando isso, o que se emagrece é uma beleuza. Rapidim, rapidim.

Eu olho pra balança e nem me lembro mais quando foi mesmo que eu pesei isso, há quanto anos, hein? E aí três dias depois subo de novo na balança (minha atual melhor amiga) e tchã, outro sorriso. E olha, comendo pão e macarrão como uma louca. Tá, vá lá, nada de doces. A não ser o cálice sagrado de Porto toda noite depois do jantar.

Sei lá, eu tô gostando.

13.4.08

Fim de carreira

Da série "Cenas que preferiríamos nunca ter visto":
Jorge Ben Jor e a Banda do Zé Pretinho tocando ao vivo, domingo à noite, no concurso Miss Brasil 2008.
É por essas e outras que eu não vejo TV.

12.4.08

A pequena Imelda

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10.4.08

A praia enquanto vista


P. e C. vieram aqui em casa outro dia e desataram a contar mil e uma histórias das suas buscas por um apartamento para comprar no Rio de Janeiro. É uma tragicomédia atrás da outra, desde o corretor muito gordo que hesite em entrar no elevador do prédio antiguinho até as grandes pegadinhas dos classificados ("cozinha original" significa cozinha decrépita; "necessita reforma", é melhor nem tentar, "sem vista para comunidade", essa só os cariocas entendem).

Eu por algum motivo estranho e desconhecido, gosto de acompanhar as novidades do mercado imobiliário. É um mercado superaquecido no Rio de Janeiro -- que aliás deve ser a cidade mais cara do Brasil. Sei que é muito mais caro do que São Paulo, e não consigo imaginar que outra cidade poderia valorizar mais um metro quadrado. Uma bolha que daqui a pouco estoura, os preços estão surreais demais.

Enfim, a questão é que sempre vejo os muitos anúncios de lançamentos imobiliários nos jornais. Primeiro, morro de rir com os nomes que nunca são em português (uma rápida folheada e lá estão Riserva Uno, O2 Corporate & Offices, Uplife Barra Bonita, Vitá Araguaia, Weekend Bandeirantes, Ecolife Recreio, Villa Carioca, Peninsulaway Residence, Smartlife Botafogo, Magnifique Botafogo, Les Palais Botafogo e aquele que para mim é o campeão da ausência de noção: London Green (Park & Style) Barra da Tijuca).

Depois dos nomes, o que me chama atenção é que não existe mais anúncio de imóvel com as plantas dos apartamentos. Até outro dia mesmo era assim, mas agora não tem mais nenhum com planta. Todos só querem enfatizar uma coisa: os serviços. E não é aquela coisa da minha época, de play, piscina e salão de festas. O negócio agora é parque aquático com não sei quantas piscinas, bar na piscina, quadras de esporte, cinema privativo, local de ensaio para garage band de adolescentes (!), brinquedoteca, academia de ginástica, parques com paisagismo e não sei o que mais inventam. Um clube, é o que gostam de dizer. Sendo que, claro, tudo com direito a 3 ou 4 vagas.

Sim, desde criança escuto aquele yada yada de que os ricos se prendem em seus condomínios. Mas o que eu percebo agora é que coisas como vista para a praia ou para a Lagoa são para ser consumidas assim mesmo: como vistas, e só. A pessoa que compra um apartamento num super condomínio desses da Barra simplesmente não vai à praia da Barra, mesmo que ela se derrame deslumbrante pela sua janela todo dia pela manhã. Ser próximo da praia significa, no máximo, que você vai ter uma brisa com cheiro de maresia à noite.

Duas gerações atrás, meu avô praticava natação na Lagoa Rodrigo de Freitas e ia à praia em Botafogo ou no Flamengo, nas lindas praias da Baía de Guanabara. Hoje nada disso é mais possível porque são águas podres, simplesmente. E, o que é mais incrível, achamos isso normal e nos despencamos para o Leme, para Copa, Ipanema, Leblon, Barra ou para a Prainha. Próximo está o dia em que essas praias oceânicas também estarão tão imundas que ficarão infreqüentáveis.

Onde será que os filhos de Mathilde vão pegar sol?

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3.4.08

3 meses

1.4.08

A resenha da semana

Fui a um chá de bebê no domingo. Entre grávidas, mães e curiosos em geral, acho que estou virando uma espécie de minicelebridade nesse microscosmos da zona-sul carioca. Por quê? Simplesmente porque meu parto foi normal e não cesárea. Tem gente que me disse que não conhece mais ninguém que tenha tido parto normal.
Mundo estranho, esse.
*
Foi bem a tempo. Confesso que eu já estava quase achando que os meus agora numerosíssimos fios de cabelo branco eram, por assim dizer, "um charme". Porque durante a gravidez não é bom pintar o cabelo, dizem. Depois que ela nasceu, fiquei com preguicite, porque o salão é láááá no Leblon, porque tem que ficar um tempão com a tinta na cabeça, e parará etcétera. Aí recebi uma foto tirada no finzinho do ano passado, naquele casamento, vocês lembram. E talvez por ser em PB, a foto realçava a montoeira embolada de fios prateados e absolutamente horrendos. No dia seguinte dei um jeito de deixar Mathilde na casa da avó e me submeti ao ritual. Ufa. Por pouco.
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Tenho uma filha que nem fez três meses ainda e agora só quer ficar em pé, toda durinha, e todo dia fala pelos cotovelos, na linguagem lá dela. Mas assim, discursos inteiros. Ai, eu mereço.
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Acho que estou com umas cinco frentes de trabalho abertas simultaneamente. Meio sem querer, acho que nunca trabalhei tanto. Tem essa coisa, maternidade dá o maior pique. Mas, ainda falando de trabalho, alguém no mundo já conseguiu entender como funciona o Microsoft Access sem ter que fazer um curso intensivo de dois anos? Existe algum programa menos user-friendly do que esse? É aquela história: eu achava que levava "o maior jeito" para línguas até que resolvi estudar alemão. Pff. Da mesma forma, eu achava que poderia trabalhar com qualquer programa do Office até me deparar com o Access. Perdi muitas horas. Desisti.
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Se a sua mãe, a sua avó, a sua sogra reclamam que as fotos no computador não bastam, que elas querem mesmo é ter umas fotos do seu bebê impressas para poder mostrar para as amigas (sim, porque no fundo é disse que se trata), faça um agrado e dê um troço bonitinho: um fotolivro. É fofo, fica bonitinho. Fiz vários, do menor formatinho disponível (mais barato também), pelo site das Americanas. Um sucessamba, podes crer. E não, eu não ganho nada com isso, é propaganda de graça mesmo.
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Tenho uma filha que tem uma bata da Zara. De novo: eu mereço.