14.3.07

Alguma coisa está dentro da ordem

Não só eu sumi daqui como o Sitemeter me diz que nos últimos dias o blogue teve zero acessos. Isso mesmo, zero page views, vários dias seguidos. E mesmo assim, ó só que curioso, pessoas comentaram. Enfim, imagino que tenham problemas no Sitemeter, não importa.

Outras coisas importam, não obstante. Por exemplo, estou indo viajar, vou passar um mês fora. Uma coisa assim, internacional, intercontinental, quase intergalática, uau e tal a coisa. Super oh-la-la.

Mas isso nem importa tanto. Mais que tudo, eu queria deixar registrado aqui, em especial para ele, que eu sei que gosta de saber, que Flamengo 4 x 1 Madureira foi um dos melhores jogos, uma das melhores idas ao Maracanã de que eu tenho lembrança. Porque o estádio estava perfeito. Porque a torcida, claro, compareceu. Porque o jogo foi eletrizante, em especial no primeiro tempo. (Aos vinte minutos eu já era um caco humano. Feliz, mas caco.) Porque o time jogou, afinal (mesmo sem Obina). Porque o resultado devolveu um pouco de lógica ao mundo. O Flamengo é o Flamengo. O Madureira -- não. É tanta barbárie por aí, tanta insanidade, que às vezes uma simples constatação dessas basta para a gente continuar confiando que a racionalidade ainda vale a pena.

3.3.07

Calvin, meu amor

Mexeu com meu coração a notícia de que a Conrad traz de volta às livrarias brasileiras livros de Calvin & Haroldo. A coletânea O Mundo É Mágico, recém-lançada, está hoje em primeiro lugar na lista dos livros mais vendidos publicada hoje n'O Globo, seção Infanto-Juvenil. É estranho que esteja entre os infanto-juvenis, mas não é de todo despropositado. Ainda que seja, a meu ver, voltada para adultos, a série Calvin & Haroldo tem um grande apelo para o público jovem, pré-adolescente e adolescente.

Já falei antes sobre como as revistas em quadrinhos foram importantes na minha formação. Parar de comprá-las e de lê-las regularmente não se deu de uma hora para outra. E nessa transição, os livros do Calvin foram muito importantes. Eu estava num ambiente conhecido (tirinhas), mas lendo algo que não era infantil, que me obrigava a refletir, e que me chamava a atenção para a ironia -- algo que eu identificava como eminentemente "adulto".


Minha história de amor com Calvin é bem antiga. Quando eu tinha entre 8 e 9 anos, escrevia um jornalzinho, no qual discorria sobre as coisas importantes para quem tem 8 e 9 anos. Falava de atualidades, de livros, tinha classificados, receitas, piadas. Geralmente era uma folha, frente e verso, datilografada. Não lembro a periodicidade, se semanal ou quinzenal. Meu pai me ajudava, e eu tinha alguns assinantes, entre amigos e parentes. Um dia, não me lembro como nem por que, ligaram de um programa de TV, daqueles de entrevistas no meio da tarde, me convidando para ir ao programa falar do jornalzinho (cujo nome era esse mesmo, "Jornalzinho"). Eu fui, falei sobre o meu veículo de comunicação, e graças ao programa consegui mais alguns assinantes, que, glória total, eu não conhecia. Eles pagavam assinatura e recebiam o jornal pelo correio. Meu pai mandou fazer um carimbo IMPRESSO, que barateava a postagem. Era o máximo.

Enfim, alguns números do Jornalzinho tinham quadrinhos, e o primeiro foi uma tira do Calvin, que na época saía publicado na Folha de S.Paulo. Eu era pequena, e achei incrivelmente engraçada a tirinha em que ele entra no armário para colocar seu uniforme e virar super-herói, mas em seguida fica com medo do escuro e grita pela mãe. Foi o início da minha paixão.


Alguns anos depois, eu devia ter uns 13, comprei os primeiros livros que saíram aqui, pela editora Cedibra. Calvin & Haroldo (1988), Algo babando embaixo da cama (1988), Yukon, hei! (1989). Mais tarde vieram Estranhos seres de outro planeta (1990), e A Vingança dos oprimidos (1991), este último um presente da minha mãe quando eu estava indo para os EUA passar seis meses, num programa de intercâmbio, em 1992. Lá comecei a comprar os novos livros em inglês: Scientific Progress Goes "Boink" (1991), Attack of the Deranged Mutant Killer Monster Snow Goons (1992). Mas as edições mais bonitas que tenho são da Warner Books, publicadas na Inglaterra: The Days Are Just Packed (1993), Homicidal Psycho Jungle Cat (1994) e There's Treasure Everywhere (1996).

Eu gostava tanto, que ficava fazendo adesivos do Calvin e Haroldo para colar no meu fichário da escola, no meu armário, no meu aparalho de som. Era um processo artesanal. Comprava papel-manteiga, colocava em cima do desenho e copiava por cima, com caneta preta (aquelas Paper Mate pretas finas, 0.7, lembra?). Em seguida cortava ao redor do desenho copiado, deixando uma margem. O passo seguinte era pegar um Contact transparente e cortar com o mesmo formato do desenho em papel manteiga, mas num tamanho maior. Abria-se um pouquinho o Contact, descolando só de um lado, e colocava o desenho no meio, entre a parte colante e a parte não-colante. Pronto, era um adesivo, que podia guardar. Depois era só abrir o Contact todo e colar onde quisesse. Eu fiz tanto isso.

Quando entrei no Orkut pela primeira vez, me inscrevi na comunidade Calvin & Hobbes. Tinha gente do mundo todo, principalmente americanos, indianos e brasileiros. Os não-brasileiros ficavam intrigados com o fato de Hobbes ter sido batizado aqui de Haroldo. Foi a primeira vez que parei para pensar nisso. Não tenho idéia do que possa ter motivado essa decisão editorial. Calvin não é um nome comum no Brasil, e nem por isso foi alterado. E Hobbes, com a referência do filósofo, dá ao personagem do tigre um caráter totalmente perdido na estranhíssima opção pelo nome Haroldo, que por si não siginifica nem remete a nada específico.

Eu amo essa cara que a mãe faz em algumas tiras

A comunidade do Orkut era muito legal (naqueles primórdios, época em que alguém ainda parava para ler mensagens em fóruns do Orkut), e passavam-se mensagens e mais mensagens relembrando as tiras preferidas -- algumas seleções específicas, como "qual a sua tira sobre bonecos de neve preferida?", esta aliás uma das minhas séries favoritas. Alguém da comunidade passou o link de um site onde havia todas as tiras, e eu passei um bom tempo (re)lendo algumas tiras todo dia de manhã, antes do trabalho.

Calvin & Haroldo é tão genial porque todos os personagens são muito elaborados, em sua simplicidade do dia-a-dia. Todos eles têm mil faces, todos são imprevisíveis, todos são bons e maus, virtuosos e calhordas em determinados momentos. Assim, todos são muito reais. Cada um de nós tem seus momentos Calvin, Haroldo, Pai, Mãe, Susie, Moe, Miss Wormwood, Rosalyn. Tanto que Pai e Mãe não têm nem mesmo nome ou sobrenome, a cidade onde eles vivem é qualquer uma, a escola não tem nome etc.

Acho difícil escolher o que mais gosto dentro do universo calvinista. Os diálogos com o pai são sem dúvida um ponto alto:


Ou nas suas críticas ácidas à arte contemporânea ou à academia:


As incríveis fugas do cosmonauta Spiff, as noites com a baby-sitter Rosalyn, a relação de amor e ódio com Susie Derkins, o mundo dos dinossauros, as contantes idas para a sala do diretor da escola, as tentativas do pai de "formar caráter", os monstros sob a cama, as brigas com Haroldo, a máquina do tempo e o duplicador, os bonecos de neve, os trabalhos escolares.

Nas mesmas histórias, o melhor e o pior de ser uma criança, o melhor e o pior de conviver com uma criança.


Para os fãs: visitem a lista de links sobre o assunto em http://ignatz.brinkster.net/clinks.html, e não percam o site onde se pode buscar tirinhas por assuntos ou palavras: http://www.transmogrifier.org/ch/comics/list.cgi

Adeus Bahia, zumzumzum, Cordão de Ouro...


Totalmente imperdível a peça Besouro Cordão de Ouro, que já esteve em cartaz no CCBB e agora voltou, na vizinha Casa França-Brasil, onde fica até 18/3. O texto é do Paulo César Pinheiro, direção de João Neves. No elenco, ninguém famoso. Todos ótimos. Conta a história de um lendário capoeirista baiano do séc XIX, o Besouro, que a gente já conhecia da letra de Lapinha. (Leia mais aqui)

Agora, melhor mesmo, só se tiver a mesma sorte que eu, e por uma felicíssima coincidência estiver lendo Um Defeito de Cor quando for assistir à peça.

Não sei, às vezes dá impressão de que tem um assunto te perseguindo.

2.3.07

Culpa do aquecimento global

Quando os dias de muito calor passam a se enfileirar assim, um atrás do outro, sem trégua, a cabeça da gente vai rateando.
E sob essas circunstâncias, mesmo pessoas esclarecidas são capazes de não se tocar que não se deve almoçar a 30cm do ventilador se o seu prato está cheio de farofa.
A farofa voava e eu olhava tão incrédula que nem consegui reagir.

Tem um lado bom, isso de você ainda conseguir se surpreender consigo mesmo -- ainda que não seja positivamente.