16.2.07

Todo mundo leva a vida no arame


Um dia depois do Chico, fui ver Sassaricando, o musical das marchinhas, no Teatro Ginástico (RJ). Não tem como não ser um sucesso. São muitas, mas muitas marchinhas cantadas por 6 cantores, com o apoio de um bom conjunto instrumental. E as marchinhas, claro, são infalíveis no que toca a nossa memória afetiva.
O que eu mais gostei foram as marchinhas que não conhecia, com destaque para a surrealista e impagável Não sou Manoel, de Wilson Batista e Roberto Martins: O telefone tocou pro Manoel / E o Manoel saiu armado / E foi pra Niterói / Mas na viagem ele refletiu / Na consciência nada me dói / Não sou Manoel, não sou casado / Eu sou é Joaquim / O que é que eu vou fazer em Niterói? / Mas Joaquim / Que é a favor da economia / Aproveitou esse boato / Fez a barba e deu uma voltinha / Pois lá em Niterói / É tudo mais barato. (Copiei a letra daqui) Pérola total. O que será que essa gente tomava nos anos 40?
Toda a crítica falou muito bem do espetáculo, que merece mesmo elogios, mas achei algumas delas meio condescendentes. Tem uns problemas de roteiro, a começar com o início do espetáculo, uma encenação de uma historinha (a menina que acha uma carta do avô dentro do baú), que leva a crer que teremos um fio condutor dramático -- mas que nunca mais aparece, some sem explicação. Alguns arranjinhos vocais de 4 vozes me incomodaram um pouco, mas foram raros. E tem um verdadeiro assassinado, da Marcha da Quarta-feira de Cinzas (Vinicius e Carlos Lyra), num momento especialmente infeliz da Sabrina Korgut (não tanto por culpa dela, mas pela roubada que deram para ela com essa música e aquele arranjo). Ah, os cantores são bastante bons. A própria Sabrina, gata escaldada de musicais, tem uma ótima presença de palco, canta e dança bem, muito melhor que a Juliana Diniz, sempre referida como "a neta do Monarco", de longe a mais fraquinha do elenco. O destaque é mesmo da Soraya Ravenle, formidável. Entre os homens, tem o Eduardo Dusek, que é tão canastra que chega a ser engraçado. E manda bem nos seus números. Os outros dois, Pedro Paulo e Alfredo, os famosos "dois bicudos", são maravilhosos, mas como são meus amigos queridos eu sou por demais parcial para falar sobre eles com isenção.
A produção é um clima Broadway total (um pouco over pro meu gosto, mas isso sou eu), com luzes, cenários, coreografias mis, figurinos variados etc. Ou seja, sucesso maior só mesmo se for para um teatro em Copacabana. Ala-la-ô.

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