16.2.07

Carioca, o show

Chico por Patricia Cecatti
No fim das contas é bom que o intervalo entre os shows de Chico Buarque seja tão longo. Oito anos, de As Cidades para Carioca. Show do Chico é um evento para ser muito aguardado e valorizado. E Carioca é um grande show. Um roteiro muito bem costurado, que amarra as músicas ótimas do novo disco àqueles sucessos que todos esperamos. Sobre os sucessos, há um quê de novidade sempre que os ouvimos ao vivo. Uma frase para a qual não se havia ainda atentado, uma melodia que se achava que era de outro jeito etc. Não é um show para ligar no automático e cantar junto. É para ouvir os detalhes. Com atenção. Que é pra perceber como Porque era ela, porque era eu, do disco novo, é maravilhosa. Entre outras coisas.
É curioso atentar para a percepção que muita gente tem hoje em dia do que deva ser um show. Ouvir é apenas uma das atividades, e nem vem em primeiro na ordem das prioridades. As pessoas esperam do show um mega-evento, sempre. Um show é pra se acabar de tanto cantar, pular e dançar. Por isso ouvi por aí que o show do Chico é "frio". Não é. Longe disso. Mas o "calor" não vem do exercício aeróbico, e sim da atividade musical. Uma espécie diferente de catarse.
E aqui cabe mais uma vez um protesto contra o modelo de casa de shows que impera. Casas como o Canecão, o Claro Hall, o novo Vivo Rio, o Tom Brasil em SP. Como é possível prestar atenção no show comendo, bebendo e lidando com maitres e garçons ao mesmo tempo? No execrável Canecão, por exemplo, a conta chega antes do fim do show. Quem terá sido o gênio autor dessa idéia? O que leva à pergunta óbvia: por que não temos mais shows em teatros, hein? Por essas e outras é que sou cada vez mais fã do recentemente inaugurado teatro da Fecap, em São Paulo, onde estive e novembro e aonde voltarei no começo de março. (Dica! Dica! 1, 2, 3 e 4 de março no teatro da Fecap, o Boi no Telhado, sobre o qual já falei aqui.)

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