4.1.07

Velharias do porão


No trabalho, ainda. Ralando para deixar tudo arrumado para aqueles que virão. Nos últimos dias tenho feito trabalho braçal, organizando em caixas as pastas perdidas do arquivo morto que estavam jogadas às traças, literalmente, no porão. Ninguém me pediu para fazer isso, mas eu acho tão importante que encarei o desafio, quero deixar esse legado.
O mais difícil é não sucumbir à tentação de abrir as pastas e ficar lendo o que aconteceu, conhecendo as histórias de cada uma. Histórias do tempo das correspondências por correio. Com cópias de carbono para arquivo. As autênticas "c.c.". Histórias do tempo em que não se escrevia vc, tb, muito menos abs para se despedir.
As pastas são tentadoras: Hemingway, Ernest. Nabokov, Vladimir. Cardoso, Lúcio. Bellow, Saul. Proust, Marcel. Dourado, Autran. Telles, Lygia Fagundes. Orwell, George. Debussy, Claude. Twain, Mark. Calvino, Italo. Rosselini, Roberto. Faulkner, William. A padronização pelo sobrenome foi obra minha também. Eu, a arquivista frustrada. (Era essa a minha verdadeira vocação.)
Centenas de pastas, em umas 50 caixas-arquivo. Até agora. Todas etiquetadas e relacionadas no computador. Ainda falta. Mas eu adoro. Dar nome às caixas, escrever ao lado a relação das pastas que estão dentro de cada uma (em cada um dos quatro lados), colar com fita nos lados da caixa, abaixa, levanta, durex, fita crepe, pilot. Estou no meu ambiente, de certa forma. Deixando mensagens para os próximos escafandristas que virão. Um dia.

2 comentários:

Anônimo disse...

Anna...pelo amor de deus, com o que você trabalha? Esses sobrenomes me desnortearam!

anna v. disse...

Menina Eva: com literatura. Um abraço e obrigada pela visita.