26.1.07

Dinheiro em penca


Leio esta matéria (via Contemporânea) sobre a tendência (nos EUA, por enquanto) de mulheres fazerem compras em dinheiro vivo para não ter que dar explicações aos maridos/namorados/companheiros. Mulheres bem-sucedidas e independentes financeiramente que gastam valores que os homens "não compreendem" em coisas como bolsas, sapatos, salão de beleza.
Fico perplexa. É inacreditável.
É minha velha teoria de que as pessoas se casam pelos motivos errados. Casam porque acham que precisam. Os casamentos passam a ser, em pouco tempo, relacionamento equivocados, onde a individualidade de cada um perde o valor. A menor unidade passa a ser "o casal", é quase impossível discernir um do outro. Fazem tudo juntos, menos por prazer e mais por convenção. Não há programa que um vá sem o outro, mesmo que seja o programa do gosto de apenas um. São "pequenos sacrifícios em prol de uma coisa maior", a saber, a sobrevivência da relação.
Sim, isso existe. A toda hora a gente precisa fazer concessões, abrir mão de algumas de nossas próprias idiossincrasias, em prol dessa coisa maior que é ficar junto de alguém que se ama. Mas por quê? Justamente porque a unidade não é o casal, e sim o indivíduo. Um casal é formado por duas pessoas diferentes, e este é um daqueles óbvios ululantes rodrigueanos que ninguém vê. Acontece que essas pequenas concessões cotidianas não precisam se estender a todos os aspectos da vida. Por que é tão difícil para os casais respeitarem a privacidade de cada um? Por que essa coisa nefasta de vasculhar a conta de cartão de crédito, a fatura de celular, os e-mails?!
Os psicólogos podem falar melhor sobre essa irresistível atração humana pelo sofrimento, essa busca por alguma coisa que esteja errada, essa desconfiança eterna que por fim vai provocar a redenção ao transformar o indivíduo em vítima.
Enfim, de volta às mulheres que pagam fortunas em cash. É frustrante que elas se submetam a isso, mesmo sabendo que homens não têm qualquer problema em gastar fortunas em carros, relógios ou gadgets eletrônicos e anunciarem isso aos quatro ventos como sinal de status.
É, eu também não entendo quem gasta US$ 3 mil numa bolsa. (Outro dia vi na Revista do Globo um editorial de moda que tinha uma sandalinha muito fuleira que custava R$ 2.500,00. Era de grife, e talz. Fiquei pensando que com esse dinheiro compra-se uma passagem de ida e volta para Paris. "Que tal irmos pra Paris nas férias?" "Hmm, não sei, acho que vou comprar uma sandalinha". Eu hein.) Eu não entendo. Mas eu não entendo muitas coisas. Não entendo tanta gente acompanhar a sétima (!!) edição de Big Brother. Não entendo dar-se tanta importância ao Oscar. Não entendo o Caçador de Pipas estar há mais de um ano no topo da lista dos mais vendidos. Não entendo muita coisa, enfim. Mas entendo menos ainda alguém achar que vale a pena gastar esse dinheiro e achar que precisa esconder isso da pessoa que ela escolheu como companheira de vida.
E do alto da minha monumental incompreensão do mundo, acho que vou dar uma volta de bicicleta.

3 comentários:

F. disse...

Li na revista Piauí de Janeiro (já deve ter saído da banca) um perfil da Lily Marinho, escrito pela Danusa, onde ela contava que madame Lily jamais usou uma folha de cheque ou um cartão de banco. Por motivos diferentes dos descritos acima (nenhum dos dois maridos que ela teve jamais deve ter se preocupado com qualquer tipo de gasto). O perfil é muito bom. Recomendo.

anna v. disse...

Eu li. Também achei muito bom. É impressionante a história dela, eu nem imaginava.

kellen disse...

menina, que legal vc ter escrito isso. porque eu penso e digo o mesmo, e muita gente diz, "ah, mas é fácil falar quando não é casada ainda". e ainda como se fosse uma setença, sabe? casou, pronto, perdeu a individualidade, etc e tal. q bom ler isso vindo de vc que é casada :)